Findo o Projeto “Tolerância Zero”,
é agora altura de um olhar crítico retrospetivo sobre as atividades aí
desenvolvidas e ganhos alcançados. Este
Projeto teve a duração de três anos e destacou-se pela intervenção com vítimas
diretas, secundárias e vicariantes, assim como pela oportunidade de apostar na
promoção de comportamentos igualitários e na desconstrução de mitos e crenças
enquanto estratégia, realizando ações de formação e sensibilização; ações
dirigidas à comunidade em geral através de jornais e de programas de rádio.
A intervenção multidimensional teve como pedra
basilar o III Plano Nacional para a Igualdade (PNI) e o III Plano Nacional
contra a Violência Doméstica (PNCVD). Em colaboração com as escolas, mães, pais
encarregados de educação e as várias entidades comunitárias (instituições,
serviços, agentes significativos da comunidade formais e informais).
Neste sentido, e tendo em conta o diagnóstico de necessidades no qual
assenta a formulação dos objetivos de intervenção, constituíram principais
objetivos e ações do projeto os seguintes:
• Ação 1—Intervenção e desenvolvimento psicossocial com vítimas de
violência na sua generalidade, diminuindo o impacto da situação traumática,
fornecendo empowerment de estratégias de resolução de problemas em situações de
crise e prevenindo a revitimação. Para tal, foi preponderante a criação de uma
rede interinstitucional com as competentes entidades da administração da
justiça, policiais, de segurança social, da saúde, como das autarquias locais e
outras entidades públicas ou particulares, na defesa e exercício efetivo dos
direitos e interesses das vítimas (Área Estratégica de Intervenção 2 - Proteger
as Vítimas e Prevenir a Revitimação, III PNCVD; Área IV—Violência de Género,
III PNI). Objetivo concretizado através de:
-Núcleo de Atendimento a Vítimas
(diretas, secundárias e vicariantes);
-Realização do grupo de
Ajuda-mútua.
• Ação 2—Aumentar a consciencialização pública acerca das temáticas
relacionadas com a violência e igualdade, combater o problema da violência na
sua raiz, ou seja, modificar muitas das crenças, linguagens e ações associadas
à violência através da colmatação de necessidades de prevenção primária,
secundária e terciária e de um conjunto de ações centradas no desenvolvimento
de competências e forças promotoras da igualdade (Área Estratégica de
Intervenção 1 -Informar, Sensibilizar e Educar, III PNCVD; Área III—Cidadania e
Género, III PNI ). Objetivo concretizado através de:
- Participação e difusão de Spot´s
na rádio clube de Arganil;
- Disponibilização de um boletim
informativo (GAUDEJORNAL);
-
Divulgação e Disseminação de Boas Práticas (e.g., execução de atividades
no dia Internacional da Mulher, Dia Internacional da Eliminação da violência
contra a mulher e dia dos namorados; realização de workshops e seminários no
âmbito das temáticas da violência, dinamização do Blog e site a Associação).
- Realização de ações de
sensibilização nas Escolas.
•Ação 3—Promoção de mudanças na atitude em relação à conciliação entre a
vida profissional, familiar e pessoal tendo em vista estreitar a relação entre
pais, filhos e escola. Concretização do objetivo mediante:
-Realização do Clube de
Mães e Pais (dinamização de workshops para o exercício da parentalidade ativa e
responsável).
Em suma, do trabalho realizado ao longo
destes três anos do qual se destaca: a intervenção com 94 vítimas de violência,
realização de ações de sensibilização com 380 alunos, a realização de 80
programas de rádio, 32 de sessões do Clube de mães e pais e a realizaram de
vários artigos para jornais, seminários e ações de sensibilização primária,
secundária e terciária, verifica-se que
a violência em todas as suas dimensões deve ser encarado como um problema
público para o qual precisamos de aceitar responsabilidade coletiva.
Como tal, a mudança no domínio
sociopolítico é algo fulcral para modificar o status quo destas famílias que
vivem quotidianos violentos.
Para que esta mudança seja real, é
necessário incidir sobre o “adormecimento” de consciências que, frequentemente,
nos leva a acreditar que ainda existe uma “cumplicidade coletiva” com o
fenómeno. Foi nesta área que a componente de sensibilização e prevenção
primária, secundária e terciária do projeto “Tolerância zero” incidiu,
constituindo como um pequeno passo na mudança de crenças centrais.
Para além disto, uma mudança em
contextos alargados (e.g., sistema educativo, media) foi uma das missões
cumpridas durante estes três anos de vigência do projeto tendo em vista a
consciencialização da violência como um problema criminal e não meramente
individual e tão-pouco familiar. Só desta forma é possível tornar as queixas
privadas em problemas sociais.