O medo faz com que muitas mulheres escondam aos médicos que são vítimas de violência doméstica, acabando por inventar outros motivos para as agressões. A directora da Delegação Norte do Instituto Nacional de Medicina Legal sabe que o facto acontece com muita frequência e reconhece que o médico deve sinalizar os casos de violência doméstica.
“Aos profissionais que estão no terreno e trabalham com estas pessoas não chega nada”, afirma Teresa Magalhães. “Por exemplo, aos médicos chegam relatos que não têm nada a ver com a ocorrência”, conta a médica e investigadora.
Ainda assim, Teresa Magalhães lembra que os profissionais que actuam na “qualidade de funcionários públicos” têm “o dever de sinalizar” casos de violência doméstica e maus tratos, “que são crimes públicos”, recorda a docente da Universidade do Porto.
No que diz respeito aos médicos, “muitas vezes coloca-se a questão de que este pode estar obrigado ao segredo médico”, reconhece a especialista.
No entanto, Teresa Magalhães não deixa dúvidas: “o nosso código deontológico é muito claro em relação às crianças, aos idosos e às pessoas com incapacidades e diz que o médico tem o dever de comunicar as situações que tem conhecimento às autoridades competentes”.
Prevenção deve começar junto das crianças
Autora do livro “Violência e Abuso - Respostas simples para questões complexas”, entre outras obras dedicadas ao tema, Teresa Magalhães elogia o trabalho que tem sido feito em Portugal ao nível da prevenção e apoio às vítimas de violência doméstica.
A médica defende que agora é preciso passar para um próximo patamar: “a formação”. Em todos os campos que lidam com o assunto, do direito à psicologia passando pela medicina, “é necessário formar pessoas que depois possam se dedicar a tempo inteiro a estas questões”, defende Teresa Magalhães.
Outro ponto sustentado pela investigadora é começar a prevenção junto dos mais novos. “Começa a desenvolver um trabalho sistemático e para sempre junto das nossas crianças”, explica Teresa Magalhães.
“Elas serão as futuras vítimas ou os futuros abusadores e, então, é preciso começar a ensiná-los desde logo porque é que elas não têm de ser vítimas e porque é que elas não têm que abusar”, concluí a médica.
@Alice Barcellos
Fonte:Sapo Notícias
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